3.23.2007

Minha Mitologia

Eu sempre fui de inventar Histórias, desde bem cedo.
Quando eu tinha uns 7 ou 8 anos, eu e mais dois amigos inseparáveis, inventamos uma brincadeira bastante interessante, inspirados pelos jogos de video game que jogávamos na época (Jogos como Castlevania, The Gauntlet e Final Fantasy, todos do saudoso sistema 8 bits da Nintyendo, carinhosamente apelidade de Nintendinho), moravamos em um bairro novo, de ruas de terra, terrenos baldios e muitas construções, nossa rua na verdade era uma avenida, cortada por um espaço que viria a ser um gramado dali a dois anos, era um pedaço de terra mais elevado que a rua, já com paralelepípedos e com uma peculiariedade que atiçou a imaginação daqueles três molques. A "Paisagem" daquele espaço variava conforme a rua descia. Começava lá em cima com uma densa "floresta" de mato, quase na metade, o ambiente mudava para uma vegetação mais rala, com capim baixo, logo depois vinha um espinheiro, e depois dele, uma pequena parte estéril, so com terra. O porque disso a gente nunca soube, mas aquele espaço virou nosso "Reino". as florestas do norte, as pradarias onde o rei ergueu seu castelo, o espinheiro, o reino do "mal" e o deserto, aonde tudo acaba.

Nossa brincadeira consistia apenas em nos equilibramos nos paralelepípedos portando pedaços de pau e cordas nas mãos, que usavamos para açoitar o pobre do mato que encontravamos no caminho. Mas nos imaginavamos como guerreiros, vencendo obstaculos para conquistarmos a confiança do Rei. Hora salvando a princesa das garras do dragão, hora enfrentando nossos maiores medos. Era bem divertido e nós tres eramos bastante criativos.. chegamos a desenvolver nossos personagens, criando para eles um passado, objetivos e medos, cada um de nós tinha um arqui-rival, o meu eu lembro, era o dragão que vivia além das montanhas, que guardava o tesouro precioso, atrás do qual, mais de mil homens perderam a vida. Ah era divertido...a gente jogava RPG antes mesmo deles se tornarem, populares.

Mas o tempo passa. Com ele chegaram a urbanização, o asfalto...e a pré-adolescencia. Como foi duro pra mim ouvir de um dos meus amigos "Po não tem graça nenhuma, tres marmanjos no meio do mato com pedaços de pau na mão"... eu lembro que pensava que a menos de um ano, ou sei lá, nove meses, esse mesmo moleque metido estava lá, açoitando um cupinzeiro aos gritos "Morra ciclope bastardo" e ele nao sabia nem o que era ciclope, muito menos bastardo. Pois bem, foi duro pra mim ter acordado num dia e ver aqueles homens da prefeitura limpandoo terreno, eu assisti angustiado o nosso reino sucumbir, e parecia que só eu me importava com ele.

Virou um gramado, uniforme de cima abaixo. Alguns sombreiros foram plantados (e eles não cresceram até hoje...praga minha), não demorou duas semanas e duas traves foram construidas. E a paixão nacional, plebéia e sem imaginação tomou conta do nosso reino. Deve ser por isso que nunca gostei de jogar bola. Qualquer um podia chutar uma bola. Queria ver eles imaginarem um reino inteiro!

Meus amigos cresceram rápido, coisa de um par de meses de férias de verão, e as brincadeiras da infância, piadas e tudo mais, foi sendo aos poucos substituidas por piadas com um leve conteudo sexual. Eu não entendia. Pra que deixar de ser criança?

Eu mantive o hábito de inventar histórias. anos mais tarde, já em plena aborrecência, meus amigos, sabendo da minha criatividade, me desafiaram a crir uma historia para jogar RPG. Nenhum de nós tinha grana pra comprar livros sobre o assunto, partimos do Zero. Eu criei a historia, a minha maneira, baseado nos jogos de RPG que eu jogava, como Final Fantasy 6 e Lufia do Super Nes. Na verdade eu já vinha trabalhando num tipo de Rpg, eu sempre gostei de "inventar jogos" e naqueles idos de 1996 eu já tinha na cabeça uma historia quase completa. o que fiz foi adaptar essa historia a realidade do tabuleiro. Criei regras, um sistema de atqeue e defesa, evolução de personagens. Mas eu queria que esses numeros e regras se fodessem, queria mais era ver a historia se desenvolver, e meus amigos se divertindo e se interessando por aquilo tudo.

Foram tardes de sabado bastante agradáveis.

Empolgado, decidi tentar jogar Rpg. consegui um grupo, e lá fui eu. Mas todo mundo sabe como os jogadores experientes tratam jogadores novos... ninguém se importou em me explicar muita coisa, só diziam, "ah vai jogando que vc pega o jeito", nunca me acostumei aos dados e regras. mas o que mais me irritava era a falta de imaginação do "mestre", tudo o que ele falava era chupinhado de outras fontes, ele não criava nada.
Nunca me dei bem como jogador de RPg porque sempre tive mais criatividade que os mestres,e as regras dos jogos me irritam. Nunca me dei bem como mestre, porque os jogadores simplesmente não aceitavam que alguém pudesse criar mundos e regras novas.

Desisti.

Em 2000, me deparei na livraria com um titulo interessante "O senhor dos anéis" (não, até então eu nunca tinha tido contato com a obra de Tolkien), quando comprei o livro fui me maravilhando. Estavam ali todas as minhas referências, e de todo mundo que criava realidades fantasticas. O Mundo de Tolkien é quase real, e o que me interessava cada vez mais na historia, é que nada ali era gratuito, tudo tinha um passado remoto, tudo tinh arazão de ser.
Me empolguei, e voltei a imaginar minhas histórias. Desenvolvi ainda mais a historia que tinha criado em 1996, para jogar com meus amigos, o mundo antes sem nome ganhou o nome de Nía, os "reinos" antes com nomes americanizados foram ganhando nomes mais proprios como Hiderya ou Gaimín, aprendi com Tolkien a inventar palavras (calro que nao cheguei a inventar idiomas)e inventar siginificados para essas palavras.

Mas (tem sempre mas...) quando comecei a trabalhar aos poucos, eu fui deixando a escrita de lado... apesar disso, nunca deixei de continuar a historia. Hora ela fica esquecida, hora eu vou inventando detalhes, escrevo uma coisa aqui e ali, mas fica tudo dentro da minha cachola.

E eu lancei um desafio a mim mesmo. Vou voltar a escrever sobre essa mitologia, e vou começar pela mais antiga delas, o Dragão, que vive além das montanhas, o vale que ninguém nunca conseguiu chegar.